sábado, 21 de fevereiro de 2015

Desmascarando as balelas sobre a venda da Vale


ARTHUR VIRGÍLIO NETO; TEOTONIO VILELA FILHO
ARTHUR VIRGÍLIO NETO
TEOTONIO VILELA FILHO
A recente venda da Vale do Rio Doce demonstrou cabalmente a lisura com que o governo Fernando Henrique Cardoso conduziu o processo de sua privatização. Caíram por terra todos os falsos e levianos argumentos de que haveria uma "armação" para favorecer este ou aquele grupo. Senão, vejamos como podem ser respondidas as seguintes questões:
A Vale do Rio Doce não teria sido posta à venda por valores irrisórios, subfaturados, quase uma "doação"? Pois bem, o leilão de transferência do seu controle acionário para o setor privado, provocando ágio de 20% sobre o preço mínimo, espantou o líder do consórcio Valecom, empresário Antonio Ermírio de Moraes, que desistiu da competição por considerar o preço "alto demais".
E o tal complô envolvendo a empresa de consultoria Merryl Lynch e o BNDES para beneficiar, em jogo de cartas marcadas, a empresa australiana Anglo American? Como fica tão brilhante denúncia, diante do fato de que venceu a disputa precisamente o consórcio contrário à Valecom, que abrigava, também, a mineradora australiana?
Que dizer do furor nacionalista, bem anos 50, que verberava a "entrega" da importante estatal brasileira ao capital estrangeiro, quando passará a dirigi-la, bem ao invés, conglomerado empresarial onde predomina o dinheiro brasileiro, da CSN aos fundos de pensão?
E a balela sobre serem estratégicas as atividades da companhia, mesmo sabendo que o eixo da Vale do Rio Doce, no tocante ao minério de ferro, é a integração mina-ferrovia-porto? Mesmo cientes as tais vozes "indignadas", que não emitiram qualquer som contra a privatização das ferrovias nem estão atuando em oposição à privatização dos portos? Mesmo conscientes da possibilidade de a ferrovia não ser estratégica e de o porto tampouco o ser, por que haveria de sê-lo somente o minério?
Que dizer, finalmente, de ter sido, ironicamente, a CSN a coordenar o consórcio vitorioso? A mesma CSN que, há bem pouco, era estatal e estava falida e, agora em mãos privadas, encontra fôlego para se atrever a incorporar a gigantesca Vale do Rio Doce?
Chega de tanta impostura. Estratégico mesmo é desenvolver o país, inclusive passando a contar com uma Vale maior, mais diversificada, mais capitalizada, livre das peias da concorrência pública e pagando mais impostos.
Estratégico é fazer a revolução educacional, porque é nela que encontraremos as principais respostas para questões delicadas e angustiantes como o desemprego e o subdesenvolvimento tecnológico.
Estratégico é não fazer jogo eleitoral, medíocre jogo eleitoral, visando enfraquecer um governo reformista e contemporâneo, pretextando servir ao país, à causa nacional.
Ora, leitores, o governo Fernando Henrique optou por retirar o Estado de funções que, bem ou mal exercidas por ele, podem ser mais bem exercidas pela iniciativa particular.
Porque seu dever básico passa a ser regular o jogo do mercado, fiscalizar, punir, prevenir a formação de monopólios, implementar políticas sociais, induzir políticas de distribuição de renda.
Porque, entre outros pontos, sendo o Estado controlador da Vale e reconhecendo-se sem recursos, sabe ele da impossibilidade que teria de injetar recursos na empresa, nas necessidades que, certamente, surgirão nessa etapa de concorrência mais aguda aberta pela economia globalizada.
Não está em discussão se quem se pôs a favor ou se posicionou contra é patriota ou não. Debate-se, isto sim, se o patriota é passadista, atrasado, "arrière-pensée" ou se é capaz de compreender a lógica das reformas estruturais em curso e se é sensível a ponto de se indignar de cérebro e coração -e não apenas retoricamente- com o quadro de injustiças e perversidades que vicejam à sombra do Estado brasileiro, engordado pelo regime militar e gritantemente superado pelos tempos presentes.

Arthur Virgílio Neto, 51, é deputado federal (PSDB-AM) e secretário-geral da Executiva Nacional do PSDB. Foi vice-líder do partido na Câmara dos Deputados (95-96) e prefeito de Manaus-AM (89-93).

Teotonio Vilela Filho, 45, é senador (PSDB-AL) e presidente da Executiva Nacional do PSDB. 

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