Os atentados mais recentes ocorridos na França reacendem uma discussão que ultrapassa fronteiras, sobre a necessidade cada vez maior de uma educação multicultural, num mundo em que convivem grupos étnicos muito diferentes entre si, seja pela língua, valores, origens ou crenças religiosas.
A educação multicultural, para muitos, parece simples e óbvia: apresentar às crianças os aspectos das diferentes culturas e ensiná-los a apreciar o que elas têm de fascinante e inusitado. Na verdade, esse é um primeiro passo, mas o principal deveria ser cuidar das atitudes, tanto em casa como na escola.
Pense a respeito: quantos exemplos de intolerância ou de preconceito as crianças presenciam hoje? Essas posturas aparecem o tempo todo, tanto nas conversas do dia a dia, como nos posts das redes sociais. Basta entrar numa delas para ler frases como, por exemplo: “Tenho medo de viajar porque os aeroportos estão cheios de muçulmanos”, ou “o Brasil está criando um problema ao deixar entrar imigrantes haitianos e sírios”; e assim por diante.
Essas visões de mundo são, muitas vezes, acentuadas nos modelos de educação tradicional, nos quais o padrão a ser buscado é o dominante e cabe à escola apagar as diferenças entre os indivíduos. Para isso, busca reforçar as identidades e os comportamentos hegemônicos por meio de rotinas e disciplinas, uniformes, conceitos memorizados e repetidos, vigilância permanente, avaliações punitivas.
Nas escolas mais modernas, tem se buscado implantar uma educação multicultural, que parte do princípio de que o futuro de nossa sociedade é pluralista. Cada vez mais teremos, nas mesmas salas de aula, uma enorme variedade de grupos sociais, culturas e idiomas, com estudantes provenientes de grandes centros urbanos, das periferias e de áreas rurais. Isso requer que os professores, além de estimular o conhecimento mútuo e o respeito de uns pelos outros, adotem estratégias que garantam que todos aprendam igualmente e possam alcançar sucesso na escola e no mercado de trabalho.
Em casa, também se pode implantar um modelo de educação multicultural. O princípio é justamente ensinar aos filhos que aprendemos com as diferenças e elas nos enriquecem. Mas como não é fácil conviver com o divergente, é preciso dar o exemplo. Para isso, permita que seus filhos se expressem na sua diversidade e acolha as suas formas de pensar. Mostre na prática que é possível construir uma sociedade tolerante e inclusiva.
A casa é um laboratório do mundo. As relações que se mantêm na família ensinam mais do que muitas aulas da escola. É no dia a dia que a criança pode aprender a reproduzir a sociedade ou a transformá-la; a perpetuar as injustiças ou a batalhar por um mundo justo e solidário.
Dicas práticas
>> Explique a seu filho o que é um “pré-conceito”: julgamento feito antes de conhecer a pessoa. Mostre exemplos de preconceitos: racial, social, sexual.
>> Peça que seu filho reflita: é possível julgar alguém só pela aparência, pelo jeito de vestir, ou pela nacionalidade, sem conhecer bem a pessoa que ele é?
>> Pergunte a ele: como você se sentiria se fosse avaliado em função de um estereótipo, como: “Os jovens só querem saber de festas”, ou “todas as crianças são preguiçosas”?
>> Dê exemplos para comprovar que as pessoas podem pensar de formas diferentes, mas todas têm o direito de expressar seus pontos de vista.
>> Discuta com seu filho a célebre frase atribuída a Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. Pratique isso em sua própria casa.
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