sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Travesti volta à identidade masculina e depois desiste: 'batalhão de conflitos'

Paula Lins, de 39 anos, retomou identidade feminina há cerca de um mês. 'Falta de oportunidades', diz sobre desistência da reversão de gênero.

Paulinha Lins, antes de fazer a retirada da prótese de silicone, e após assumir identidade de Clécio Gomes (Foto: Arquivo Pessoal e Raimundo Mascarenhas / Calila Notícias)
"Há desejos na vida que não entendemos e não sabemos explicar", revela Paula Lins, de 39 anos. Há um mês, reassumiu a identidade feminina após uma série de reviravoltas. Ainda garoto, aos oito anos, já se interessava por atividades consideradas de meninas à época, como brincar de cozinha. Também se sentia atraído por outros meninos, mas ainda não entendia. Aos 12, saiu de casa e durante seis anos tomou hormônios femininos.

Aos 24 anos, Paula abandonou o nome de Clécio Gomes Araújo e passou a se identificar como mulher. Deixou a cidade de Conceição do Coité, no semiárido baiano, e morou em Salvador e na Itália. Quinze anos depois, de volta à cidade natal, retomou a identidade masculina. Foi abraçado por uma instituição religiosa, mas continuava sentindo-se à margem da sociedade. "Desisti não pelo sexo, mas pela falta de oportunidades", disse sobre a escolha de recuperar os traços de mulher.

Sem dinheiro e ofertas de emprego no mercado formal, Paulinha Lins, como é conhecida, se reencontrou com a atividade que fez parte da sua vida desde que se assumiu travesti pela primeira vez. "Estou em Salvador há 15 dias. Voltei a fazer programa na orla. Hoje, está bem mais difícil. A situação está terrível. Está pior do que quando comecei", revela.

Ainda com identidade masculina, saiu de casa aos 12 anos. Morava com os pais e mais 10 irmãos. Atraído por garotos, sentia-se diferente. "Eu estava entre os três irmãos mais novos. Eles tinham vergonha de andar comigo, me achavam afeminado. Meu pai me chamava de 'viado'. Entendo que as pessoas naquele tempo tinham dificuldade de aceitar", reflete. Sem perspectivas de futuro, decidiu ir para a sede do município morar com uma irmã.

Paulinha Lins, antes de fazer a retirada da prótese de silicone (Foto: Paulinha Lins / Arquivo Pessoal)"Era uma vida de muita dificuldade. Chegamos a passar fome. Decidi sair para estudar e trabalhar, mas não encontrava emprego. Passei a fazer atividades domésticas em uma casa. Uma mulher muito boa me deu essa oportunidade", disse. Nesse período, relata que encontrou uma prima que era travesti. Identificou-se com a história e passou a usar hormônios femininos. Foram seis anos usando as substâncias, até decidir ir para Salvador.

"Minha prima me convidou para passar o réveillon lá. Uma amiga dela fazia programa na Manoel Dias [bairro nobre de Salvador, na Pituba] e me convidou. Fui na curiosidade. Lá, ganhei numa noite o que ganhava em um mês em Coité: R$ 60. Isso em 1999", revela. Em 2003, recebeu a proposta para ir para a Europa. "Era tipo uma cafetina. Ela mandava para fora do Brasil, mas cobrava um preço bem caro. Eram € 120 mil. Em seis meses fazendo programas, consegui pagar o valor e juntar dinheiro para comprar uma casa [em Coité]", informa.

Os programas na Europa eram feitos na Itália. Em um mês ele conta que conseguia juntar até R$ 7 mil. Entre idas e vindas, fixou-se definitivamente no Brasil em 2008. "O dinheiro era alto, mas o sofrimento também era grande. Foi terrível. Fui presa três, quatro vezes. Às vezes, não consegui correr. Era humilhante. Tinha um objetivo e queria pagar esse preço", conta. Lá, conseguiu o dinheiro necessário para colocar uma prótese de silicone. Era um sonho.

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